Lançado em 1938, “Nothing Sacred” é uma joia pouco conhecida da era de ouro de Hollywood, um filme que, apesar de sua premissa simples – uma jovem desesperada busca fama em Nova York –, mergulha em questões profundas sobre fé, fanatismo e a natureza ilusória da realidade. Dirigido por William A. Wellman, o filme apresenta um elenco estelar liderado pela irresistível Carole Lombard e Fredric March, que entregam performances brilhantes e memoráveis.
A trama gira em torno de Hazel Flagg (Carole Lombard), uma jovem vivendo na pacata cidade de Warsaw, Minnesota. Hazel é descrita como uma mulher com uma personalidade peculiar: impulsiva, sonhadora e, acima de tudo, ávida por fama e aventura. Quando ela descobre ter uma doença terminal – “raio-X no peito!”, anuncia Hazel ao médico –, decide aproveitar o tempo que lhe resta da melhor maneira possível, embarcando em uma jornada para Nova York.
Sua notícia de que a morte iminente se aproxima é amplificada pela imprensa local, que transforma Hazel na “donzela moribunda” e organiza uma campanha para arrecadar fundos para sua viagem à cidade grande. Em meio ao frenesi gerado por sua suposta doença terminal, Hazel encontra Wally Cook (Fredric March), um repórter cético e sarcástico do jornal “New York Globe”. Inicialmente descrente da história de Hazel, Wally se vê envolvido em suas artimanhas e, mesmo que relutantemente, embarca na jornada com ela para Nova York.
A chegada de Hazel à cidade grande transforma-se em um espetáculo midiático. Sua figura como a jovem condenada se torna um símbolo de compaixão, atraindo multidões de curiosos, devotos e oportunistas que buscam tirar proveito da fama repentina de Hazel.
Em meio ao caos gerado por sua história, Wally luta para separar o real do imaginário. Ele tenta desvendar a verdade sobre a doença de Hazel, enquanto se apaixona cada vez mais pela energia contagiante e pelo espírito livre da jovem. Hazel, por sua vez, se vê imersa em um mundo de excessos e ilusões, onde a linha entre verdade e ficção se torna tênue.
“Nothing Sacred” é uma sátira inteligente e perspicaz sobre a cultura midiática dos anos 30. O filme critica a hipocrisia da sociedade que se alimenta do sofrimento alheio e glorifica figuras fabricadas pela mídia. Através da jornada de Hazel, o filme expõe a fragilidade da fama e as consequências da manipulação.
A direção impecável de William A. Wellman confere ao filme um ritmo ágil e envolvente. As cenas são dinâmicas e bem construídas, com uso inteligente de planos sequenciais para criar uma sensação de movimento constante. O roteiro, escrito por Ben Hecht (o mestre do diálogo mordaz), é repleto de momentos hilários e perspicazes, que revelam a ironia e o sarcasmo que caracterizam a obra.
A fotografia em preto e branco de Joseph H. August captura a atmosfera vibrante de Nova York dos anos 30, com seus arranha-céus imponentes e suas ruas repletas de vida. A trilha sonora, composta por Alfred Newman, complementa perfeitamente a narrativa, criando uma atmosfera melancólica e ao mesmo tempo esperançosa.
Ators Principais:
Ator | Personagem |
---|---|
Carole Lombard | Hazel Flagg |
Fredric March | Wally Cook |
Charlie Ruggles | George Gimpel |
Dorothy Mackaill | Lillian “Lily” Glickman |
Temas Exploranados:
- Fé e Fanatismo: O filme explora o poder da fé, mas também a perigo do fanatismo cego. Hazel se torna uma figura quase religiosa para muitos, que a adoram como uma santa em sofrimento.
- A Natureza Ilusória da Realidade: A linha entre verdade e mentira se torna tênue em “Nothing Sacred”. Hazel inventa sua doença para alcançar fama, enquanto Wally luta para descobrir a verdade por trás da fachada construída pela mídia.
- Amor e Desilusão: O relacionamento de Hazel e Wally é complexo e cheio de contradições. Eles são atraídos um pelo outro, mas o peso das mentiras e das expectativas criadas pela mídia ameaçam seu amor.
Detalhes de Produção:
- Estúdio: RKO Radio Pictures
- Data de Lançamento: 1938
- Direção: William A. Wellman
- Roteiro: Ben Hecht (baseado em uma história de Gladys Lehman)
- Fotografia: Joseph H. August
- Trilha Sonora: Alfred Newman
“Nothing Sacred” é uma joia escondida do cinema clássico americano, um filme que oferece muito mais do que pura entretenimento. É uma sátira inteligente sobre a sociedade e a cultura midiática, com um toque de romance e uma mensagem poderosa sobre a busca por felicidade e verdade. Uma experiência cinematográfica inesquecível para aqueles que apreciam histórias bem contadas e personagens memoráveis.